Arquivo de Março, 2009

Limpeza feita na Primavera

Posted in Uncategorized on Março 29, 2009 by jtparreira

Magrittemagritte_-_la-philosophie-dans-le-boudoir-1947Spring is like a perhaps hand
arranging
a window,into which people look

 e.e.cummings

 

Primavera é como a mão

que termina onde começam as flores
(que vêm cuidadosamente
de lado nenhum) e manda
numa janela, antes fechada

e agora espirra sol e pólen

em que as pessoas mudam

os seus olhos e modos

de falar sobre as coisas.

Odisseu o que caminhou em círculos no mar

Posted in Uncategorized on Março 26, 2009 by jtparreira

Odisseu o que caminhou em círculos no mar
E prendeu seu corpo e seus ouvidos
No mastro principal
Que não deu orelhas às sereias
E sustentava o leme
Sob as ondas
E com um saco de ventos
Nas velas enfunadas
Entrou em Ítaca
Onde Penélope esperava
Uma vida.

Nécrologie

Posted in Uncategorized on Março 22, 2009 by jtparreira

self-portrait-van-goghVan Gogh morreu no outro dia
um tiro
em Auvers estoirou a luz
ondulante das searas, um tiro
na cabeça de Van Gogh
as asas dos corvos
espantaram o azul.

haiku

Posted in Uncategorized on Março 18, 2009 by jtparreira

jtp200011

Sob a palidez
da encoberta luz da lua:

claridade pública.

#

Árvore a descansar
no seu tapete de chão:
deitada na sombra. 
 

Sala de leitura

Posted in Uncategorized on Março 15, 2009 by jtparreira

Lector de viejas historias,?que buscas

en los libros?

Juan Manuel Bonet

 

Que buscamos no meio da brisa

que percorre os livros? No meio

e entre cada sílaba? A respiração

mesmo ténue, que ilude a morte?

Que buscamos nos livros? Um átomo

de vida? Um jardim

para um cálice que não passa?

Uma penumbra

onde se troca um beijo? Luz

que acende o azul das águas

é sempre o que buscamos.

biblioteca

Obituário

Posted in Uncategorized on Março 11, 2009 by jtparreira

Fernando Pessoa morreu
no Bairro Alto
ele colocou os óculos para sempre

sobre a mesa, três dias antes
ainda O viram a dobrar
uma esquina na Baixa lisboeta  
risos soltos, uma tosse
a dobrar o corpo para a frente.
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(3ª variante do poema original Obituary, publicado em 2008 e traduzido para inglês)

Minha cama é uma coberta amarela

Posted in Uncategorized on Março 10, 2009 by jtparreira

My bed is covered yellow – Oh Sun, I sit on you
Oh golden field I lay on you

 

Peter Orlovsky

 

Deitado em cima do sol

Neste edredão de girassóis voltados

Para a janela, resplandece

Como um rio

O meu corpo cansado

Minha cama é uma coberta amarela

Nos meus olhos, o meu quarto

Torna-se maior, embora

Possa tocar nos quatro cantos

Oh sol deitado em ti

Sou um Van Gogh à escuta

Que o silêncio me adormeça

E não exista mais distância

Entre mim e o que vejo.

 

24/2/2009

W.C.W

Posted in Uncategorized on Março 9, 2009 by jtparreira

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The Desolate Field

   
 

 

Vast and grey, the sky
is a simulacrum
to all but him whose days
are vast and grey and —
In the tall, dried grasses
a goat stirs
with nozzle searching the ground.
My head is in the air
but who am I . . . ?
— and my heart stops amazed
at the thought of love
vast and grey
yearning silently over me.

William Carlos Williams

 

VASTIDÃO

Vasto e cinzento, o céu

é uma imagem

para todos menos para ele cujos dias              

são vastos e cinzentos e –

Nas ervas altas, ressequidas

uma cabra agita-se

com o focinho procurando o chão.

Minha cabeça está no ar

mas quem sou eu…?

— e meu coração maravilhado pára

num pensamento de amor

vasto e cinzento

saudoso em silêncio sobre mim.

 

Tradução de J.T.Parreira

A tradução de poesia

Posted in Uncategorized on Março 9, 2009 by jtparreira

Segundo o poeta francês Yves Bonnefoy:

O material do tradutor, será o texto. Uma tarefa é muito clara:  que o tradutor leia, livremente, que siga livremente, inteligentemente,  seu caminho no texto.

Valsando

Posted in Uncategorized on Março 9, 2009 by jtparreira

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“Não há muito a dizer de uma valsa”

Maria Pragana

 

 

Não há muito a dizer sobre uma valsa

e tanta coisa se liga

a um corpo dançando com o outro

 

Os dançarinos passeiam por campos vazios

na sua cabeça, mãos nas mãos

atirando para longe o frio

 

No vento

o vestido é uma chama

queimando.

8/3/2009