ATÉ QUE CHEGUE À PALAVRA AMOR

Posted in Uncategorized on Junho 27, 2016 by jtparreira

 

 

 

Até que chegue à palavra Amor

Toda a abundância, quantas guerras

Serão precisas, até que chegue à palavra nudez

Todo o amor puro, quantas guerras

Teremos de travar com os desejos

Fulminantes dos olhos, aos quais um Apóstolo

Chamou concupiscência.

25-06-2016

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DESCRITIVO DO AMOR NO CÂNTICO DOS CÂNTICOS

Posted in Uncategorized on Junho 27, 2016 by jtparreira

A sombra do meu amado faz arder os meus olhos.
As suas mãos perfumadas no meu rosto
São a água matinal, nos meus cabelos
O paladar dos cachos de uvas o tornam ébrio.
A chama do seu amor faz arder
As sombras. As maçãs na sua boca
São minhas, são meu alimento. A minha beleza
De jovem Sulamita o constrange, não sabe
Onde pôr a sua mão direita.
Enquanto a sua mão esquerda é um fogo
Debaixo da minha cabeça. Todos os meus ossos
Tremem com o açúcar da sua voz.

20-06-2016
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Passam a mão pelo rosto

Posted in Uncategorized on Abril 20, 2013 by jtparreira
“Aqui cada um é o seu próprio carcereiro, irreconhecível e anónimo.”
Paal Brekke (Poeta noruguês, trad. Amadeu Baptista)
Passam a mão pelo rosto e não encontram nada
o nariz adunco
faz uma curva para o abismo, os olhos
sem possibilidade de evasão, os lábios
apenas com a sintaxe da dor
São estranhos
marcados com seis pontas estelares
como uma roda dentada
que tritura o corpo
Passam com as mãos nos ouvidos
e sentem a falta das canções maternas.
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18/4/2013

UMA FLOR NASCEU NA RUA

Posted in Uncategorized on Agosto 1, 2012 by jtparreira

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Ninguém sabe

como a semente caiu, não

prevenida sobre as pedras

talvez viesse num bico

de vento, num sapato cansado

mas veio alterar o que é

imudável nas pedras.

1/8/2012

Eu tenho respostas

Posted in Uncategorized on Maio 23, 2012 by jtparreira
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I found the answer, I learned to pray,
oh with faith to guide me, I’ve found the way.
Mahalia Jackson
 
Eu tenho respostas, não tenho medos
tenho um caminho, abismos
não movem as minhas areias
o chão
é seguro como as mãos divinas
nas órbitas dos astros
 
os ventos
não me trazem rumores
se tenho brilhos nos olhos
é porque cada lágrima
tem uma resposta, e já não temo
as esquinas da minha noite

nem as tempestades
que se podem formar dentro
do cérebro por causa do medo
e na boca não tenho
palavras ruinosas, que sendo ditas
podem alterar a cor de uma rosa.

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O parapeito é um país pequeno

Posted in Uncategorized on Fevereiro 13, 2012 by jtparreira

O parapeito é um país pequeno

minúsculo para os sonhos

de um certo pássaro jovem

a ansiar mundo

resta assim deixar-se cair feito suicida

na insustentável leveza dos ares

como Ícaro de penas próprias

mas recolhidas

como a preguiça.

10/2/12

© Brissos Lino

O SENHOR DA PANDEIRETA

Posted in Uncategorized on Janeiro 27, 2012 by jtparreira

 

Hey! Mr Tambourine Man, play a song for me

In the jingle jangle morning I’ll come followin’ you

Bob Dylan

 

 

O arco do céu acústico

espalha a música

dos pobres,

sem contrato, com os braços

com as veias em êxtase

em greenwich village

cheia de portas para parte nenhuma

 

Senhor da Pandeireta

vá batendo no meu coração

vou atrás de si em bicos de pés

silenciosos, como se o chão

fugisse ou a rua fosse lume.

 27/1/2012

Perseguições

Posted in Uncategorized on Dezembro 19, 2011 by jtparreira

Há uma cova de leões

mais funda

do que a garganta das feras

um fogo de uma ponta a outra

do forno

pronto a derreter a nossa carne

há rios que não correm

para os nossos lados e das margens

do Quebar não vemos no espelho

do rio o nosso rosto

No nosso dilúvio

de lágrimas, nenhuma pomba

trouxe o verde, um ramo

de água limpa, uma rosa

mesmo descolorida

Depois,  a mentira da água

nos chuveiros e de novo

os fornos

aquecidos setenta vezes sete.

19/12/2011

 

19/12/2011

O rapaz do pijama às riscas

Posted in Uncategorized on Outubro 2, 2011 by jtparreira

 

O rapaz do pijama às riscas

senta-se num banco de cimento

numa casa hermética

no cimento

e sela com a sua mão a mão

de outro rapaz

ambos livres do pijama às riscas

agora no silêncio da nudez.

1/10/2011

A Mulher de Azul de Vermeer

Posted in Uncategorized on Setembro 3, 2011 by jtparreira

The painter’s vision is not a lens,
It trembles to caress the light

Robert Lowell

Diziam

que a visão do pintor

não é uma lente, que tremia

ao roçar pela luz, pelo corpo

vestindo-o

de um céu azul

Vermeer pincelou o sol

na parede, cobriu

os olhos

da sólida mulher

que atravessam para longe

cada palavra que lê.

26/7/2011